segunda-feira, 16 de abril de 2012

Identidade invisível


Minha sabedoria é não saber de nada.
Ou saber e fingir que não sei.
Nem pareço ser o que digo,
Nem pareço sentir o que escrevo.

Mas então, o que pareço eu??
Sei lá. Já quis ser tanta coisa que acabei me perdendo no caminho...
Hoje não aparento ser mais nada.
Não me lembro bem o que já fui. E nem procuro pensar nisso.

Sinto a amargura do passado sem pensar nele.
Sinto as pernas cansadas, mas não sei por onde passei
E nem quais rastros deixei pra trás...

Eu sinto dores do passado, mas não penso nelas
Existo só de viver sem pensar, só de sentir sem lembrar
Hoje, ainda tento ser muita coisa. Mas não aparento ser nada.




Alann Macumba

domingo, 15 de abril de 2012

Criptas de ouro


Num lugar morto...
Dominado pela desgraça,
Sinto um modo carinhoso de pavor...

Um lugar que eu julguei
Ser um paraíso...
Escondia a verdadeira danação
De uns grotescos sacerdotes de luxúria...

E a doce Maria, travestida
De ouro e mágoa...
E um pobre menino, nascido
Agonizante e sem voz...

Eu vejo lágrimas quebradas
Como chuva de vidros...
Eu vejo cores desbotadas,
Pelos muros lamuriantes...

E os grotescos em suas criptas de ouro
Seguindo o mestre dos sem - luz

Eu tento ver o sol,
Mas só vejo um céu cinzento
De frente ao mar
De aparência lúgubre e negra

O dia em que o riso morreu,
O dia em que o sol apagou,
O dia em que o tempo parou,
Uma espinha no rosto de Deus.

E os grotescos continuam em suas criptas de ouro...


Alann macumba

Debaixo das pedras


Debaixo das pedras,
Lá, debaixo das pedras...
Será que é lá que estão os sentimentos humanos já esquecidos há séculos?

Eu? Eu simplesmente estou a perguntar-me o porquê do brilho lunar está tão diferente hoje.
As pedras continuam lá, os sentimentos esquecidos e as lágrimas sem falsidade...

Será que estou sonhando? Será que o brilho lunar é o mesmo de sempre?
Sinto uma dor incrível quando olho a lua, as pedras e os sentimentos deixados ao peso das pedras.

Amores machucados, corações traídos,
Lealdade negada...
Olho ao redor e vejo um mundo sem cores...
...e as pedras continuam lá.




Alann macumba


Os olhos


Na vida, no mundo
Na morte, além
Sua face mostra a saudade e a solidão interna...
Uma enchente de lágrimas,
Uma seca de prazeres,
Uma murcha e aprisionada vida que não pode ser vivida...
Mente doente é a nossa, com todo desprezo do mundo e a melancolia da vida.
O céu escurecido, o rosto do palhaço...
O triste olhar do palhaço...
Crianças que não conseguem sorrir...
Não há brinquedos.
Nossa alegria é a tristeza de outros.
Nossa tristeza é o mundo...
Uma enchente de sangue,
Uma seca de liberdade,
O amor manchado com nosso orgulho e distorcido por nossos próprios sentimentos.
Eu vejo os olhos...
Eu vejo os olhos dela...


Alann macumba

-Realidade Perdida-


Vivendo em agonia, procurando justificativas
Acho que posso morrer a qualquer momento
A grande tragédia é que não morro...
Como alguém pode morrer se já está morto por dentro?

Tentando não desistir de tudo
Porém já cansado de lutar
Algo me chama pro outro lado
Onde está a verdade por trás de toda essa ilusão?

Pessoas bonitas, pessoas de mentira
Horror mascarado, perfeição imperfeita
Algo tenta me mostrar as cores
Mas só vejo preto, branco e tons acinzentados.

Mundo de merda, pessoas imbecis, vida medíocre
Vejo tanta podridão e tento achar uma decência
As armas atiram para todo lado
Assassinando até as almas de quem ainda as tem.

Acho que não consigo mais viver em tal realidade
Acho que não quero ver essa falsa luz
A natureza humana é muito cruel
Acho que voltarei ao meu sono eterno...

...e sonharei para sempre.



Alann Macumba


Vida Revisada


Vida Revisada[1]


Perdoar e substituir,
Imperdoáveis e insubstituíveis.
Impulsionar a esquecer
Pessoas inesquecíveis.


Transformar a decepção sentida
Em decepção ofertada
E não ter a intenção
De fazê-lo


Abraçar em proteção,
Sorrisos e proibições.
Amizades eternizadas
Amar e ser amado, e depois rejeitado.


Ser amado e não corresponder
Chorar e gritar de felicidade.
Ao doce som de uma voz querida
Emocionar-se


Lutar e viver,
Viver e deixar viver.
Perder honradamente
Vencer com ousadia


Não tornar-se insignificante
Diante de uma vida
Construída por suas próprias
Atitudes.


Alann Macumba



[1] Essa poesia foi criada como uma intertextualidade com o texto “Vida”, de Charles Chaplin.